quinta-feira, 4 de agosto de 2011

POEMA DA AUTO-ESTRADA

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.

Leva calções de pirata, 
Vermelho de alizarina 
modelando a coxa fina 
de impaciente nervura. 
Como guache lustroso, 
amarelo de indantreno 
blusinha de terileno 
desfraldada na cintura.
 
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta. 
Agarrada ao companheiro 
na volu'pia da escapada 
pincha no banco traseiro 
em cada volta da estrada. 
Grita de medo fingido, 
que o receio nao e' com ela, 
mas por amor e cautela 
abraça-o pelo cintura. 
Vai ditosa, e bem segura.

Como rasgão na paisagem 
corta a lambreta afiada, 
engole as bermas da estrada 
e a rumorosa folhagem. 
Urrando, estremece a terra, 
bramir de rinoceronte, 
enfia pelo horizonte 
como um punhal que enterra. 
Tudo foge 'a sua volta, 
o ceu, as nuvens, as casas, 
e com os bramidos que solta 
lembra um demonio com asas.

Na confusão dos sentidos 
já nem percebe, Leonor, 
se o que lhe chega aos ouvidos 
sao ecos de amor perdidos 
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa de lambreta.

António Gedeão

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