sábado, 20 de agosto de 2016

Dia 113. (excerto)


Onde estou, espero por ti e amo-te. Olho para ti,
e o meu olhar beija-te. Canto, e é a ti que canto.
E isso diz-me que, provavelmente, já te amo
desde o tempo em que as estrelas ainda não
repetiam o teu nome.

Joaquim Pessoa, in ANO COMUM

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

SEM TI


E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.

EUGÉNIO DE ANDRADE, in CHUVA SOBRE O ROSTO, (Modo de Ler/Ed. Afrontamento, 2009)

Em nome


Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in DUAL (1ª ed., Lisboa, Moraes Editores, 1972), in OBRA POÉTICA (Caminho, 2010; Assírio & Alvim, 2015)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos


Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.


Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

…Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Pablo Neruda

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

FRONTEIRA


Não sei a que sabe a tua boca
desconheço a força dos teus braços
o odor da tua pele
a textura dos teus dedos.
Mas sei o calor da tua voz,
que me aquece, me percorre
e me desperta.

Sei que é em ti que procuro
a água que sacia a minha sede
o sol que ilumina o meu rosto
a ternura que me é recusada
o sonho que me é negado.

Sei que é ténue a linha que separa os nossos corpos,
quando, em pensamento, nos envolvemos
e amamos.

FÁTIMA GUIMARÃES, in A VOZ DO NÓ (ed. da Autora, 2014)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Ainda não te perdi e já tenho saudades tuas


Ainda não te perdi e já tenho saudades tuas.
Da tua voz. Do teu cheiro. Da tua roupa espalhada
pela casa. A nossa história de tão verdadeira, é fictícia.
Foi animada como uma noitada com amigos. Hoje,
é um caso arquivado. Onde estivemos todos estes anos?
Que diferença faz a indiferença? O nosso entusiasmo
do tamanho do mundo é agora uma aldeia estranha,
um espaço acanhado onde ninguém se reconhece.
Nunca tivemos a coragem de pisar o risco, de trocar
todos os dias por cada um dos nossos dias.
A tua juventude e a minha juventude não voltarão
a tocar-se, vamos a caminho de outro tempo.
Um tempo onde não há tempo para voltar atrás.

Joaquim Pessoa, em "Ano Comum"

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

DIA 88


DIA 88

Se pudesse, fazia-te uma casa de vidro.
Se pudesse, fazia-te uma casa de lã.
Se pudesse, fazia-te uma casa de beijos.
Se pudesse, fazia-te uma casa de versos.
Se pudesse, fazia-te.

JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (Litexa, 2011, 1ª ed.; Edições Esgotadas, 2013)