domingo, 16 de setembro de 2012

DEFRONTE DO MAR





Não quero mais. Não quero.
Não gosto de me sentir débil e fraca.
Antes sozinha, que me conheço, lúcida e caustica,
do que neste enjoo febril de desamparo,
arrepio de agonia lenta, nó de lágrimas.
Mais eloquente do que as palavras mudas,
chega-se, implacável,
- feroz inimiga da minha vontade -,
uma verdade que se instala e toma forma crua:
a tua necessidade de mim é nula.
Confusa, atraiçoada e triste,
estou como quem, por força das circunstâncias,
resiste, mas, preferia ceder, morta por dentro.

Sob o doce véu da fantasia, a visão parecia tão real!
Afinal, foi tudo ilusão, um sonho avulso, o perfeito engano,
outra mentira nascida nas profundezas negras
da minha Solidão de ser, mais uma vaidade minha,
uma coisa solta, por aí, sem raiz nem paradeiro.
E, neste pesar, vim vê-lo.
Vim ver o mar-testemunha.
Trago a desculpa que me sustenta,
vim saber o que é feito da promessa
e da ternura que ficou naquele instante,
estanque e desperto,
que tão depressa perdi.
Vim à tua procura,
confirmar a suspeita de ser vazio no teu peito.
Vim ouvi-lo respirar, de novo e no mesmo lugar,
imenso e indiferente à dor que sinto.
Vim à minha procura nele
para me perder de ti,
que já não sei quem sou, neste fogo sem eco.
Vim vê-lo de muito perto, firme, forte, verde.
Liguei-o a nós, se calhar, sem razão,
porque ele é para sempre, continua.
Nós é que não.

MARGARIDA FARO, in 44 POEMAS (Fonte da Palavra, 2011)

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