sexta-feira, 13 de abril de 2012

Poema nº 18

Aqui te amo
Nos sombrios pinheiros desenreda-se o vento
a lua fosforesce sobre as águas errantes
andam dias iguais a perseguir-me.

Desperta-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata desprende-se do ocaso.
Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.

Ou a cruz negra de um barco.
Sozinho.
Às vezes amanheço e até a alma está húmida.
Soa, ressoa o mar ao longe.
Este é um porto.
Aqui te amo.

Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte
Eu continuo a amar-te entre estas frias coisas
Às vezes vão meus beijos nesses navios graves
que correm pelo mar onde nunca chegam.

Já me vejo esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os cais quando fundeia a tarde.
A minha vida cansa-se inutilmente faminta.
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

O meu tédio forceja com os lentos crepúsculos.
Mas a noite aparece e começa a cantar-me
A lua faz girar a sua rodagem de sonho.

Olha-me com os teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento
querem cantar o teu nome com as folhas de arame.


Pablo Neruda

Sem comentários:

Enviar um comentário