domingo, 30 de agosto de 2015

O FIM DA NOITE


ela guardava os sentimentos
como um animal ferido que se agarra
à vida por de dentro

e a vai perdendo devagar
enquanto sangra e sofre
emudecendo.

então beijavas-lhe
os seus próprios gemidos, a sua
desolada liberdade, o que no seu

olhar se enevoava.
não lhe peças mais nada,
não lhe digas

mais nada, mas não deixes
que a noite tome conta dela e
dite as suas leis.

VASCO GRAÇA MOURA, in O RETRATO DE FRANCISCA MATROCO E OUTROS POEMAS (1998), in POESIA REUNIDA, 2, (Quetzal, 2012)

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