segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

SONETO DO CATIVO


Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

DAVID MOURÃO-FERREIRA, in OS QUATRO CANTOS DO TEMPO (Guimarães Ed., 1963), in 366 POEMAS QUE FALAM DE AMOR, org. de Vasco Graça Moura (Quetzal, 2003)

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