quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Dia 63...

Sobrou a minha culpa. Agora resta ouvir o que tenho para me dizer.
Estou ofendido comigo mesmo.
Noite e dia, a qualquer hora, procuro libertar-me desse
arbusto escuro que tenho enraizado no coração e,
ao longo do cansaço, praticar a lição mais humilde,
como a do camponês que sabe que se estafa por uma colheita pobre.
Por enquanto, a esperança é como um cenário pintado,
frágil, perdido no tempo. Mais luz, mais luz, em vez de ar.
Preciso apenas de luz para viver, para respirar-te.
Esvoaçam na minha lembrança os teus dedos iluminados e,
sobre a minha pele, pequenos pássaros brancos afastam-se a caminho do sul.
Há veredas, no vento, que ainda se lembram de nós,
permanecem perfumadas com os nossos corpos e
surpreendidas com os nossos beijos. Mas sinto-me agora prisioneiro,
com o peso da culpa estatelando-me de costas contra a terra,
fixando a noite e o céu, procurando os contornos do teu rosto
que não consigo enxergar. Já não te encontro em mim,
nem longe de mim. Não é mais que um pequeno consolo,
constatar que as estrelas têm um sorriso parecido com o teu.

Joaquim Pessoa

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