sexta-feira, 17 de maio de 2013

POEMA SEPTUAGÉSIMO SÉTIMO


Não te peço perdão. E peço-te
que não me peças perdão. Faz
como os alfarrabistas para quem
não interessam as qualidades de uma obra
mas, e apenas, a sua raridade. Não
me julgues ainda. Deixa que o tempo
se encarregue desse julgamento. Hoje
e amanhã não são o mesmo dia. Todos
os passados já foram futuro, e o futuro
é com esses passados que tem
de construir-se. O próximo futuro.
Porque o futuro longínquo será a soma
dos futuros mais próximos, isto é,
a soma dos passados que hão-de
vir, sem pedir perdão a um futuro
que, exactamente por ser futuro,
não se pode saber se chegará.

JOAQUIM PESSOA, in GUARDAR O FOGO (Ed. Esgotadas, 2013)

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