sábado, 29 de outubro de 2011

TERNURA

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Traço a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mão cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.




VINICIUS DE MORAIS, in ANTOLOGIA POÉTICA (Pub. D. Quixote, 2008)



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