sábado, 10 de novembro de 2012

MAIS UMA NOITE, AMOR


Mais uma noite, amor. Ao recordar-te
retomo os fins do mundo, a cinza, os dias
manchados de outras lágrimas. Sabias
como eu a cor das sombras, essa arte

que nos engana agora e se reparte
por esquinas e cafés. Já não me guias
os muitos passos vãos, as fantasias
da minha falsa vida. Vou deixar-te

fugindo-me. Na chuva, sem ninguém,
apenas alguns vultos, o que vem
«e dói não sei porquê» -este deserto

onde te vejo, imagem outra vez,
até de madrugada. O que me fez
sentir o muito longe aqui tão perto?

FERNANDO PINTO DO AMARAL, in A ESCADA DE JACOB (Assírio & Alvim, 1993 )

1 comentário:

  1. ‎"Os poemas são casos de pele. Quando são bons sentem-se logo. Quando são muito bons, sentem-se sempre. (...) Nenhum verdadeiro poeta escreve para se compreender (...) os verdadeiros poetas escrevem só para que as lágrimas não se gastem. Para que o amor, a solidão e a saudade nunca se resolvam. (...) foi contra estes espartilhos que nasceu a poesia, terrorismo supremo e subtil."

    Inês Pedrosa

    ResponderEliminar