sábado, 12 de maio de 2012

DIA 17



Estou preso à tua liberdade. Uma liberdade que me empur-
ra para a luz quando o meu corpo respira sombra, e este é
o trabalho mais oculto do mundo. O que chega aos poucos
pode chegar depressa e às escondidas, com a rapidez da
mordedura das víboras e do furor das moreias.
Gostar de ti é uma ferida. Gostar de ti como se me deixas-
se morrer de morte iluminada que resultasse num cadáver
amoroso, rodeado de uma luz perversa, estúpida, circun-
dante.
Estou entre o nada e a parede como um animal com todas
as saídas, sem saber por qual delas deve sair. Com medo
de sangrar e de gostar do próprio sangue. Com medo de
ter medo.
Toda a minha história é uma história de amor.


JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (Litexa, 2011)

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