terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NOCTURNO

Amor, não sei de coisa mais violenta
que ficar de noite à tua espera.
É triste como uma manhã cinzenta
destruindo o coração da primavera.

E aqui, como um pássaro deitado,
julgando ouvir na chuva a tua voz,
a madrugada deita-se a meu lado
fingindo que na cama estamos nós.

Mas eu sinto chegar esta amargura
que vem fechar-me os olhos. E depois,
já nem sei se é um sonho ou se é loucura:
no quarto onde estou só, ficamos dois.

E nada mais me importa, já não espero
aquela que enche a noite de alegria.
Então, para dizer quanto te quero,
eu faço amor contigo até ser dia.

JOAQUIM PESSOA, in disco LP CANÇÕES DE EX-CRAVO E MALVIVER (Toma Lá Disco, 1977)

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