quarta-feira, 24 de julho de 2013
O SONO RETIROU-SE DO MEU CORPO E AS CIGARRAS
O sono retirou-se do meu corpo e as cigarras
atormentam as minhas noites. Depois de teres
partido, os lençóis da cama são como limos frios
que se agarram à pele. Porém, se me levanto,
não faço mais do que arrastar a solidão pela casa;
talvez procure ainda um gesto teu nos braços
do silêncio, como um pombo cego a debicar
as sombras na única praça deserta da cidade —
o amor nunca aprendeu a ler nas linhas da mão.
MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA, in O CANTO DO VENTO DOS CIPRESTES (Gótica, 2001)
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