domingo, 4 de dezembro de 2011
ABSOLVIÇÃO
Incendeiam-me ainda os beijos que me não deste
E cegam-se os acenos que me não fizeste
Da janela irreal onde o teu vulto
Era uma alucinação dos meus sentidos.
Mas, decorrida a vida, e oculto
Nestes versos doridos,
A saber que não sabes que te amei
E cantei,
E nem mesmo imaginas quem eu sou
E como é solitária e dói a minha humanidade,
Em vez de te acusar
E me culpar
Maldigo o árbítro da fatalidade
Que cruelmente nos desencontrou.
MIGUEL TORGA, in ANTOLOGIA POÉTICA (Coimbra, 4ª ed., 1994)
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