terça-feira, 24 de maio de 2016
Quero dizer-te uma coisa simples
Quero dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma; mas que não deixa, por isso, de deixar alguns sinais - um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos. Como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto. São estas as formas do amor, podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples também podem ser complicadas, quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade. Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a realidade aproxima-me de ti, agora que os dias correm mais depressa, e as palavras ficam presas numa refracção de instantes, quando a tua voz me chama de dentro de mim - e me faz responder-te uma coisa simples, como dizer que a tua ausência me dói.
Nuno Júdice
quarta-feira, 18 de maio de 2016
[ESTOU MAIS PERTO DE TI PORQUE TE AMO]
Os meus beijos nascem já na tua boca.
Não poderei escrever teu nome com palavras.
Tu estás em toda a parte e enlouqueces-me.
Canto os teus olhos mas não sei do teu rosto.
Quero a tua boca aberta em minha boca.
E amo-te como se nunca te tivesse amado
porque tu estás em mim mas ausente de mim.
Nesta noite sei apenas dos teus gestos
e procuro o teu corpo para além dos meus dedos.
Trago as mãos distantes do teu peito.
Sim, tu estás em toda a parte. Em toda a parte.
Tão por dentro de mim. Tão ausente de mim.
E eu estou perto de ti porque te amo.
JOAQUIM PESSOA, in OS OLHOS DE ISA [edição especial, Litexa Editora (1983)]; O POETA ENAMORADO (Ed. Esgotadas, 2015)
domingo, 15 de maio de 2016
QUASE SEMPRE
E as tuas mãos
Aquecem-me
Acendem-me
Quando me tocam
Quase me despem
Depois basta-me uma só palavra
Um sorriso
Um pequeno gesto
Ou até mesmo
Apenas o silêncio
O estares tão perto
E então
Durante esse teu oferecer
Por vezes
Anoitece
É quando tudo
O tudo entre nós
Acontece...
Quase sempre.
JOSÉ GABRIEL DUARTE, in AS CORES DO DESEJO - POEMAS IMPROVÁVEIS (Versbrava, 2014)
sexta-feira, 13 de maio de 2016
saber o que és, dizer o teu corpo
saber o que és, dizer o teu corpo,
ouvir-te num breve instante,
dizer o que é amor sem o dizer,
tirar de mim um poema que te cante;
e ver passar-te por entre os dedos
o fio de luz que prende os teus olhos,
e vê-lo enrolar-se em segredos
quando a tua voz o apaga e acende;
tocar-te os lábios num fim de verso,
ver-te hesitar entre sorriso e mágoa,
perguntar se o teu rosto tem reverso,
e ter nele uma transparência de água:
é o que vejo em ti no cair de véu
em que me dás a terra que vale o céu.
Nuno Júdice
quinta-feira, 12 de maio de 2016
Agora eu era linda outra vez
Agora eu era linda outra vez
e tu existias e merecíamos
noite inteira um tão grande
amor
agora tu eras como o tempo
despido dos dias, por fim
vulnerável e nu, e eu
era por ti adentro eternamente
lentamente
como só lentamente
se deve morrer de amor
valter hugo mãe
in "O Resto Da Minha Vida seguido de A Remoção das Almas"
domingo, 1 de maio de 2016
DESISTE
dentro do peito.
Quando o coração se passeia
pelo corpo todo.
Quando a garganta está cheia de automóveis
como uma cidade à hora de ponta.
Quando o cérebro tem um LP riscado.
Quando o futuro tem um só segundo.
Quando as paredes contam histórias
e o telefone soma silêncios.
Quando nos olhos
não pára de chover.
Desiste.
NUNO GUIMARÃES (Poema escrito no dia 25 de Abril 2013),
in https://www.facebook.com/…/poesia-minha-des…/584925958198635
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